A figura acima é um esquema simples que peguei emprestado da física. Temos duas situações. Na primeira um esforço X gera um resultado Y (roda quadrada). Na segunda o mesmo esforço X gera um resultado Z (roda redonda). O resultado Z é melhor que o resultado Y.
Um engenheiro nunca utilizaria um indicador de esforço como forma de melhorar o sistema ou o resultado. Muito pelo contrário, a redução do esforço é a busca primordial da humanidade. Engenheiros, por incrível que pareça, também são humanos.
Porém, no campo da gestão e administração as coisas não são tão claras quanto nos eventos físicos já controlados pela humanidade. Para nossa alegria, a analogia nesse caso é direta. Vamos chamar de “indicadores de esforço” os “indicadores de procedimento”, já para o resultado temos, inclusive, o mesmo termo.
Se um engenheiro nunca utilizaria um indicador de esforço para melhorar algo, por que motivo, razão ou circunstância um administrador utilizaria? A questão é mais simples do que parece. O administrador (este, não todos) toma como certo que quanto mais esforço for empregado, mais resultado será alcançado.
Continuemos com a nossa analogia física x administração. Aumentar o esforço para aumentar o resultado em física não faz sentido em todos os casos. Se você estiver falando de empurrar uma pedra (evento simples) faz todo o sentido, mas isto não se repete em um motor a combustão (evento complexo). Se você joga muito combustível na câmara de combustão o motor “afoga” e você não tem resultado nenhum. No motor há uma série de fatores que influenciam no resultado como, por exemplo, a taxa de compressão, a relação combustível/comburente, etc.
Em administração faz sentido? Não em todos os casos também. Os humanos têm limites físicos e psicológicos. Não necessariamente um aumento de esforço resultará em aumento de resultado. Vamos utilizar um conceito importante na engenharia: função limite. Se imaginarmos uma pessoa trabalhando em seu limite de 24 horas por dia, todos os dias do ano fica bem fácil entender que o resultado não é diretamente proporcional ao esforço. Há diversas variáveis físicas e psicológicas que interferem na relação. Se o humano não dormir (24 horas trabalhando) esforço adicional não vai trazer melhor resultado.
E, convenhamos, há alguma coisa mais complexa no mundo do que o corpo e, principalmente, o cérebro humano? Logo, na administração é muito mais importante medir o resultado já que nem a ciência atual conhece todas as faces do cérebro e da psicologia.
Se você “puxa” demais um trabalhador do conhecimento possivelmente reduzirá sua motivação e criatividade. Se você reduz a criatividade reduz a sua chance de conseguir algo inovador no futuro. Se você reduz a sua chance de conseguir algo inovador no futuro, compromete a melhora dos resultados, que é exatamente o inverso do que você, administrador, quer.
É extremamente claro que estabelecer metas de esforço (procedimento) pode ser um tiro pela culatra. É também muito claro que quando fazemos isto estamos deixando completamente de lado a inovação e o aumento da eficiência do sistema (utilizando o conceito da engenharia de “esforço/resultado”).
Portanto, as administrações mundo afora que utilizam gestão por indicadores e metas deveriam colocar como prioridade zero a mudança para indicadores de resultado, mesmo que imperfeitos ou imprecisos. Estabelecendo metas de resultado como “consumo/km rodado” poderemos cada vez mais agregar valor ao nosso trabalho. E quando agregamos mais valor ao nosso trabalho temos plenas condições de exigir maior valorização da carreira e dos salários.
Vamos, de uma vez por todas, parar de empurrar pedras quadradas e buscar formas de arredonda-las.
* Alexandro Afonso é Agente Fiscal de Rendas do Estado de São Paulo
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