por João Francisco Neto
Durante a campanha eleitoral americana de 1968 para a Presidência da República, o então candidato republicano Richard Nixon publicou que tinha um plano secreto para acabar com a Guerra do Vietnã. À medida que aumentava o número de jovens soldados americanos mortos naquela guerra, aumentava também a intensidade dos protestos da população dos Estados Unidos, que clamava pelo fim dos combates. Nixon, depois de eleito, não só não acabou com a guerra, como demonstrou a clara intenção de levá-la adiante, afirmando que os Estados Unidos queriam, sim, conquistar a paz, mas que fosse com honra, evitando uma súbita retirada das tropas, que mais pareceria uma fuga.
Em 1969, já eleito, para obter o apoio da opinião pública e enfrentar as crescentes manifestações de rua contra a Guerra do Vietnã, Nixon convocou a imprensa e proferiu um vigoroso discurso, em que apelava pelo apoio da “maioria silenciosa”. Para ele, a maioria silenciosa seria composta pelo grande número de cidadãos americanos que não saíam às ruas para protestar, e que, ao contrário, seriam favoráveis à continuação do conflito. Enfim, essa chamada “maioria silenciosa” seria formada pelos cidadãos comuns, contrários aos valores da contracultura da época, e que, enfim, pretendiam apenas viver normalmente e criar seus filhos num país estável e seguro. O discurso foi muito bem recebido pela população americana, e Nixon se convenceu de que, realmente, tinha o apoio da grande maioria silenciosa, que não protestava pelas ruas. Tanto foi assim que, em seguida, enviou mais tropas para o Vietnam e, no ano seguinte, em 1970, promoveu a invasão do Camboja, um pequeno país vizinho ao Vietnam, que acabou envolvido no conflito, juntamente com o Laos.
Essa história da maioria silenciosa retornou recentemente ao noticiário em virtude de um movimento político conservador criado nos Estados Unidos (Tea Party), que se opõe ao Presidente Barack Obama, sob a alegação de que Obama não teria o apoio justamente dessa maioria de cidadãos comuns. O movimento inspira-se num evento da história dos Estados Unidos, o Boston Tea Party, que foi uma revolta de colonos contra a arbitrariedade das leis tributárias inglesas, fato esse que muito contribuiu para a Declaração de Independência americana.
A partir do discurso de Nixon, a expressão “maioria silenciosa” passou a integrar o vocabulário político mundial, sendo, em geral, utilizada por movimentos e partidos conservadores que consideram que a maioria da população é ordeira e pacífica, e não é representada pelos valores dos grupos radicais que promovem protestos e demonstrações de rua.
Mas, a expressão pode ter usos bem diversificados. Por exemplo, aqui no Brasil, os setores favoráveis à transposição do curso do Rio São Francisco alegavam que a esmagadora maioria das populações nordestinas (a maioria silenciosa, no caso) seria favorável à obra, e que os contrários, embora representassem apenas grupos minoritários, eram ativistas ruidosos, e tinham, portanto, mais visibilidade na imprensa.
Há quem considere que a atividade política em geral também se enquadre no conceito de maioria silenciosa, pois, embora o regime democrático seja representativo, não é difícil encontrar quem não se sinta representado pelos políticos que estão no governo ou na militância. Nesse caso, ocorreria, então, o fenômeno da maioria que, embora permaneça em silêncio, não concorda com as práticas de grande parte dos políticos.
E a maioria silenciosa que a tudo assiste, perplexa e indignada com os frequentes e sucessivos escândalos, notícias de desvios e de má gestão de recursos públicos, de despudor com a coisa pública, e de total falta de ética e respeito com o povo, ou seja, tudo aquilo que é contrário aos propósitos e sentimentos do cidadão comum (a maioria), que, por sua vez, apenas almeja trabalhar, criar seus filhos e viver com dignidade num país tranqüilo.
João Francisco Neto
Agente fiscal de rendas (SP), mestre e doutor em Direito Financeiro (Faculdade de Direito da USP)
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